sábado, 21 de abril de 2012

Deus e a Lógica: Paradoxo de Epicuro


Deus e a Lógica: Paradoxo de Epicuro

Poderiam Deus e o mal coexistir? Segundo a lógica do filósofo grego Epicuro de Samos, o deus cristão não poderia existir em um mundo onde o mal habita. Contudo, tal pensamento pode ser falseado através de alguns conceitos cristãos.

 O paradoxo diz:
  • Se for omnipotente e omnisciente, então tem conhecimento de todo o Mal e poder para acabar com ele, ainda assim não o faz. Então Ele não é Bom.
  • Se for omnipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o Mal e quer fazê-lo, pois é Bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto Mal existe e onde o Mal está. Então Ele não é omnisciente.
  • Se for omnisciente e benevolente, então sabe de todo o Mal que existe e quer mudá-lo. Mas isso elimina a possibilidade de ser omnipotente, pois se o fosse erradicava o Mal. E se Ele não pode erradicar o Mal, então por que chamá-lo de Deus?

Levando-se em consideração a ideia geral do paradoxo, ele poderia ser resumido desta maneira:

“Se Deus é bom então ele combate o Mal.”

Em linguagem matemática, ou mais necessariamente, na lógica matemática, este tipo de sentença (condicional) é estruturado desta maneira: “se p então q”, o que significa dizer que “p implica q”:

p → q

A primeira condição (p) é suficiente para a ocorrência da segunda, ou seja, ela garante que “q” ocorra, o que não significa dizer que é a única maneira pela qual a segunda pode ocorrer. E “q” é necessária para a ocorrência de “p”, ou seja, se “q” não ocorrer, isso significa que “p” também não ocorreu:

~q → ~p (lê-se “não q implica não p”).

Logo, pela lógica de Epicuro, se Deus não combate o mal, então ele não é bom.

Mas, vamos fazer o caminho contrário e utilizar uma sentença equivalente para entender se de fato esta lógica se aplica a Deus: “Se Deus é mal então ele combate o bem”.

Veja que a sentença mantem a mesma ideia da negativa de p e de q (Deus não combate o mal, logo ele não é bom, e se ele não é bom, ele é mau). Já sabemos que a não ocorrência de “q” implica a não ocorrência de “p”, e sabemos que Deus não combate o bem, logo ele não é mau.
Então, a ideia de que alguém é bom se este mesmo combate o mal é logicamente errônea (para se ser bom, não é necessário combater o mal, mas apenas não praticá-lo).

Além disso, a lógica de Epicuro bate de frente com outra questão: o livre-arbítrio. O livre-arbítrio é o direito universal da escolha. Segundo esta ideia, Deus nos dá total liberdade de agir e de decidir entre fazer o bem e o mal. Então, desde o momento em que Deus interfere em nossas vidas, o livre-arbítrio deixa de existir. Daí pode-se criar outra sentença lógica:

“Se Deus interfere em nossas vidas então nós não temos o livre-arbítrio”.

Pelo cristianismo, sabemos que somos dotados do livre-arbítrio, logo Deus não interfere em nossas vidas. Poderíamos dizer também que “Deus só interfere em nossas vidas se, e somente se, não temos o livre-arbítrio”:

p ↔ q = p → q e q → p = ~p → ~q e ~q → ~p

Ou seja, para que Deus possa intervir em nosso mundo de uma forma geral, é necessário que abramos mão do nosso direito de escolha. Seja pelo bem ou pelo mal, é necessário aceitar a vontade de Deus em nossas vidas para que enfim possamos vê-lo se manifestar.

6 comentários:

  1. Parece que esse é único argumento que os ateus encontram,Deus não pode ser contido em conceitos subjetivos assim como a parte não pode conter o todo.Como podemos colocar Deus debaixo desse julgo, Deus é o princípio de tudo, Ser bom ou ser mal, a quê? a quem?... a nós, isso já é outra pergunta. mas como posso julgar Deus com a lei imposta para nós homens, então um pai diz ao filho "não use facas por que é perigoso, e o filho tolo vai responder ao pai:pai não use facas também é perigoso...tire suas conclusões.

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    1. Só rindo dessa conclusão ridícula para enfiar deus na jogada, vc não rebateu uma unica linha do paradoxo de Epicuro, fez umas manobras bisonhas para tentar salvar deus dessa bobagem que inventaram para ele que é impossível as oni-tudo, três atributos imbecis e sem sentido...e de coexistência impossível...só religioso maluco defende essa bobagem

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  2. Penso que Epicuro está correto, além do que, se Deus nos ameaça com o inferno se não praticarmos o bem, então ele está interferindo em nossas escolhas. Acho que quem é bom, é quem, podendo,deve impedir o mal. Pitagoras

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    1. Mas isso também pode depender da maneira como você interpreta isso. Você pode achar que condenar alguém ao inferno é uma forma de manipulação que acaba fazendo o livre-arbítrio cair por terra; mas você pode entender isso como uma simples consequência de nossas escolhas.

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    2. Sr. Silva. Devo dizer que não acredito em inferno, ou num deus interferindo constantemente em nossas vidas. Tentei expor o caso na visão de um religioso. Penso que nossas escolhas raramente podem ser considerads "livre arbítrio". O que ocorre é nosso subconciente ativando o instinto de sobrevivência em cada "opção" (assim como alguém age frente a um perigo iminente)Instintivamente "escolhemos" as opções mais seguras, confortáveis, práticas. etc. dependendo de nossos conhecimentos anteriores (subconsciente)sobre aquela situação. Ab. Pitágoras

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  3. Epicuro não era ateu. Seu paradoxo apenas tenta afirmar que os deuses não estão nem ai para os humanos. Não negava a existência de deuses. Apenas tentava fazê-los ser menos inúteis na medida que, ignorando os humanos, seus erros e violências seriam compreensíveis.

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